Os cogumelos medicinais são usados na Medicina Chinesa há vários séculos. Estes fungos contêm mais de 150 compostos bioativos na sua estrutura. Fornecem alfa- e betaglucanos biodisponíveis, enzimas, pré-bióticos, antibióticos naturais, vitaminas do grupo B, ergosterol, minerais (selénio e zinco), aminoácidos essenciais e outros nutrientes que ajudam ao equilíbrio do organismo.
A micoterapia é um termo utilizado para fazer referência à terapia com fungos (ou parte destes) com fins saudáveis, tanto na prevenção como na suplementação terapêutica em diversas patologias.
Nas últimas décadas, os cogumelos medicinais têm sido objeto de investigação em diferentes áreas, nomeadamente na oncologia e imunologia. Clinicamente são utilizados no suporte da imunidade ou em pacientes com cancro, infeções virais, afeções cognitivas ou outras condições de saúde. São comumente consumidos como alimento ou sob a forma de suplemento alimentar. Possuem numerosas ações farmacológicas, tais como, ação antimicrobiana, anti-inflamatória, imunomoduladora, antidiabética, citotóxica, antioxidante, hepatoprotetora, anticancerígena, antioxidante, antialérgica, propriedades anti-hiperlipidémicas e prebióticas, entre outras.
Alguns dos cogumelos mais usados são:
Reishi
Shiitake
Maitake
Coriolus
Cordyceps
Juba de leão
Cogumelo do sol
Polyporus
Cogumelo-ostra
Orelha-de-judas
Tremella
Reishi (Ganoderma lucidum) – líng zhī (em pinyin)
O cogumelo Ganoderma lucidum, conhecido como, o cogumelo da imortalidade, aparece referenciado num dos mais importantes clássicos da Medicina Chinesa, o Shén nóng běn cǎo jīng. Os seus efeitos são diversos: calmante1,2, anti-inflamatório3,4, antiviral5, antitumoral6, 7, metabólico8 e cardiovascular9, 10. Na Medicina Chinesa considera-se que tonifica o qi, nutre o sangue, acalma o shen, transforma a fleuma e pára a tosse11.
É um cogumelo muito utilizado em condições de insónia, stress e ansiedade e é também utilizado em quadros oncológicos, patologias inflamatórias, entre outros.
Shiitake (Lentinula edodes) - xiāng gū (em pinyin)
Durante a dinastia Ming, o cogumelo Lentinula edodes foi classificado como “elixir da vida” pelo famoso médico chinês Wu Shui. Alguns dos seus efeitos são: anti-hipertensivo12, antidislipidémico13, imunomodulador14, antimicrobiano15, anticoagulante16 e antitumoral17. Na Medicina Chinesa considera-se que tonifica o qi, reforça o baço, sendo útil em casos de fadiga, falta de apetite, alergias e constipações recorrentes. Pode ser utilizado em quadros de hipertensão arterial, cancro, infeções bacterianas e fúngicas e no fortalecimento do sistema imunitário.
É muito utilizado na culinária asiática e é o segundo cogumelo mais produzido a nível mundial.
Maitake (Grifola frondosa) - huī shù huā (em pinyin)
O cogumelo Grifola frondosa tem o nome de maitake, no Japão, que significa “cogumelo dançante”.
Na Medicina Chinesa considera-se que reforça o qi do baço, drena humidade e elimina calor.
Alguns estudos demonstraram que este cogumelo retarda a progressão das células malignas devido ao seu efeito antimetastático, bem como atenua alguns efeitos secundários associados à quimioterapia, nomeadamente a perda de apetite, vómitos, náuseas, queda de cabelo, etc.18, 19
Outros estudos analisaram o seu efeito na diminuição dos níveis de colesterol, no controlo da pressão arterial20, 21,no controlo do peso22, 23 e na indução da ovulação, em pacientes com síndrome dos ovários poliquísticos (SOP)24.
Pode ter como possíveis aplicações clínicas: cancro, hipertensão arterial, dislipidemia, controlo de peso e síndrome dos ovários poliquísticos.
Pode ser utilizado na culinária.
Coriolus (Coriolus versicolor) – yún zhī (em pinyin)
O cogumelo Coriolus versicolor, conhecido como cauda de pavão, é o cogumelo medicinal mais estudado, em ensaios clínicos de larga escala sobre os seus extratos PSK e PSP (polissacarídeos).
Este cogumelo tem ação antitumoral25, 26, 27, antiviral28, 29, 30 e imunomoduladora31. Clinicamente pode ser aplicado em quadros oncológicos e patologias virais (é, por exemplo, utilizado no tratamento do HPV - vírus responsável pelo cancro do colo do útero).
Segundo a Medicina Chinesa, este cogumelo tonifica o qi do baço, elimina humidade, nutre a mente, sendo útil em desordens pulmonares, fadiga, doenças crónicas e no reforço do sistema imunitário.
Cordyceps (Cordyceps sinensis) – dōng chóng xiào căo (em pinyin)
O cogumelo Cordyceps sinensis, segundo a Medicina Chinesa, tonifica o yang do rim e a essência, tonifica o pulmão, resolve a tosse e o sibilo e pára a transpiração.
Alguns estudos sugerem que este cogumelo tem efeito energizante32, revigorante, antiviral33, regulador das hormonas sexuais34,35, afrodisíaco e protetor renal36, hepático37 e pulmonar38. Pode ser clinicamente aplicado em quadros de fadiga e convalescença, quadros de infertilidade e disfunção sexual, insuficiência renal, hepatite, asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
Juba de leão (Hericium erinaceus) – hóu tóu gū (em pinyin)
O cogumelo Hericium erinaceus, de acordo com a Medicina Chinesa, regula o qi, atua sobre o estômago e acalma a mente.
O seu efeito regenerador do tecido nervoso e do epitélio gástrico e intestinal tem sido alvo de estudo, no âmbito das doenças degenerativas39, 40, 41 e das doenças que afetam a mucosa gástrica e intestinal42, 43, 44.
Clinicamente pode ser aplicado em quadros de demência, doença de Parkinson, esclerose múltipla, gastrite e doenças inflamatórias intestinais.
Pode ser utilizado na culinária.
Cogumelo do sol (Agaricus blazei)
O cogumelo Agaricus blazei, conhecido como cogumelo do sol é uma espécie micológica originária do Brasil. Este cogumelo suscitou reconhecimento científico internacional, desde a década de 60, altura em que dois investigadores da Califórnia se deslocaram à região da Piedade (São Paulo, Brasil) para estudar o ambiente, qualidade da água e estilo de vida dos habitantes da região. Foi relacionado pelos investigadores que, os residentes dessa região, detentores de boa saúde, baixa incidência de cancro e elevada longevidade consumiam com regularidade esta espécie de cogumelo45.
Este cogumelo tem efeito antitumoral46, antiproliferativo47, antiangiogénico48, redutor dos efeitos secundários da quimioterapia49, protetor hepático50, fungicida51, antialérgico52 e metabólico53, 54.
Pode ter como aplicações clínicas: quadros de alergia, cancro, hepatite.
É utilizado na culinária.
Polyporus (Polyporus umbellatus) - zhū líng (em pinyin)
O cogumelo Polyporus blazei, de acordo com a Medicina Chinesa, promove a diurese, drena a humidade e facilita o metabolismo dos líquidos orgânicos.
Este cogumelo tem efeito diurético55, 56, sendo útil em quadros de edema e infeções urinárias.
Cogumelo-ostra (Pleurotus ostreatus) – píng gū (em pinyin)
O cogumelo Pleurotus ostreatus, de acordo com a Medicina Chinesa, elimina vento e frio, fortalece os vasos, relaxa os tendões, drena humidade57, 58.
Este cogumelo tem efeito hipoglicemiante59 e antidislipidémico60, antitumoral61, 62 e imunomodulador63.
Clinicamente pode ser aplicado em quadros de dislipidemia, diabetes, cancro e reforço do sistema imunitário.
É utilizado na culinária asiática.
Orelha-de-judas (Auricularia auricula-judae) - hēi mù ěr (em pinyin)
Na Medicina Chinesa, o cogumelo Auricularia auricula-judae arrefece o sangue e pára a hemorragia, sendo útil em quadros de hematúria, metrorragia e hemorróidas58.
Os seus efeitos anti-inflamatório64, antioxidante65, anticoagulante66, antidislipidémico67, cardioprotetor68 têm sido alvo de estudo.
É utilizado na culinária asiática.
Tremella (Tremella fuciformis) - bái mù ěr (em pinyin)
O cogumelo Tremella fuciformis, segundo a Medicina Chinesa nutre o yin do pulmão e estômago, promove a produção de líquidos orgânicos, sendo útil em quadros de tosse seca11.
Estudos sugerem que este cogumelo tem efeito protetor dos efeitos secundários da radioterapia69, efeito anti-inflamatório70, imunoestimulante71, neuroprotetor72, 73 e antienvelhecimento74.
É utilizado na culinária asiática e na cosmética.
Referências bibliográficas:
1. Q. P., Wang, L. E., Cui, X. Y., Fu, H. Z., Lin, Z. Bin, Lin, S. Q., & Zhang, Y. H. (2007). Extract of Ganoderma lucidum potentiates pentobarbital-induced sleep via a GABAergic mechanism. Pharmacology Biochemistry and Behavior , 86 (4). https://doi.org/10.1016/j.pbb.2007.02.015
2. Cui, X. Y., Cui, S. Y., Zhang, J., Wang, Z. J., Yu, B., Sheng, Z. F., Zhang, X. Q., & Zhang, Y. H. (2012). Extract of Ganoderma lucidum prolongs sleep time in rats. Journal of Ethnopharmacology , 139 (3). https://doi.org/10.1016/j.jep.2011.12.020
3. Powell, M. (2006). The use of Ganoderma lucidum (Reishi) in the management of histamine-mediated allergic responses. Townsend Letter .
4. Tasaka, K., Mio, M., Izushi, K., Akagi, M., & Makino, T. (1988). Anti-allergic constituents in the culture medium of Ganoderma lucidum. (II) The inhibitory effect of cyclooctasulfur on histamine release. Agents and Actions , 23 (3–4). https://doi.org/10.1007/BF02142527
24. Chen, J. T., Tominaga, K., Sato, Y., Anzai, H., & Matsuoka, R. (2010). Maitake mushroom (Grifola frondosa) extract induces ovulation in patients with polycystic ovary syndrome: A possible monotherapy and a combination therapy after failure with first-line clomiphene citrate. Journal of Alternative and Complementary Medicine, 16(12). https://doi.org/10.1089/acm.2009.0696
31. Saleh, M. H., Rashedi, I., & Keating, A. (2017). Immunomodulatory properties of coriolus versicolor: The role of polysaccharopeptide. Frontiers in Immunology, 8(SEP). https://doi.org/10.3389/fimmu.2017.01087
38. Yu, X., Mao, Y., Shergis, J. L., Coyle, M. E., Wu, L., Chen, Y., Zhang, A. L., Lin, L., Xue, C. C., & Xu, Y. (2019). Effectiveness and Safety of Oral Cordyceps sinensis on Stable COPD of GOLD Stages 2-3: Systematic Review and Meta-Analysis. Em Evidence-based Complementary and Alternative Medicine (Vol. 2019). https://doi.org/10.1155/2019/4903671
57. Jilin, L., & Peck, G. (1995). Chinese Dietary Therapy . Churchill Livingstone
58. Hobbs, C. (1995). Medicinal mushrooms : an exploration of tradition, healing, and culture. Botanica Press.
59. Sayeed, M. A., Banu, A., Khatun, K., Khanam, P. A., Begum, T., Mahtab, H., & Haq, J. A. (2015). Effect of edible mushroom (Pleurotus ostreatus) on type-2 diabetics. Ibrahim Medical College Journal, 8(1). https://doi.org/10.3329/imcj.v8i1.22982
60. Khatun, K., Mahtab, H., Khanam, P. A., Sayeed, M. A., & Khan, K. A. (2007). Oyster mushroom reduced blood glucose and cholesterol in diabetic subjects. Mymensingh medical journal : MMJ, 16(1). https://doi.org/10.3329/mmj.v16i1.261
61. Jedinak, A., & Sliva, D. (2008). Pleurotus ostreatus inhibits proliferation of human breast and colon cancer cells through p53-dependent as well as p53-independent pathway. International Journal of Oncology, 33(6). https://doi.org/10.3892/ijo_00000122
62. Sarangi, I., Ghosh, D., Bhutia, S. K., Mallick, S. K., & Maiti, T. K. (2006). Anti-tumor and immunomodulating effects of Pleurotus ostreatus mycelia-derived proteoglycans. International Immunopharmacology, 6(8). https://doi.org/10.1016/j.intimp.2006.04.002
63. Jesenak, M., Majtan, J., Rennerova, Z., Kyselovic, J., Banovcin, P., & Hrubisko, M. (2013). Immunomodulatory effect of pleuran (β-glucan from Pleurotus ostreatus) in children with recurrent respiratory tract infections. International Immunopharmacology, 15(2). https://doi.org/10.1016/j.intimp.2012.11.020
64. Ukai, S., Kiho, T., Hara, C., Kuruma, I., & Tanaka, Y. (1983). Polysaccharides in fungi. XIV. Anti-inflammatory effect of the polysaccharides from the fruit bodies of several fungi. Journal of Pharmacobio-Dynamics, 6(12). https://doi.org/10.1248/bpb1978.6.983
65. Kho, Y. S., Vikineswary, S., Abdullah, N., Kuppusamy, U. R., & Oh, H. I. (2009). Antioxidant capacity of fresh and processed fruit bodies and mycelium of auricularia auricula-judae (Fr.) quél. Journal of Medicinal Food, 12(1). https://doi.org/10.1089/jmf.2007.0568
66. Yoon, S. J., Yu, M. A., Pyun, Y. R., Hwang, J. K., Chu, D. C., Juneja, L. R., & Mourão, P. A. S. (2003). The nontoxic mushroom Auricularia auricula contains a polysaccharide with anticoagulant activity mediated by antithrombin. Thrombosis Research, 112(3). https://doi.org/10.1016/j.thromres.2003.10.022
67. Chen, G., Luo, Y. C., Ji, B. P., Li, B., Guo, Y., Li, Y., Su, W., & Xiao, Z. L. (2008). Effect of polysaccharide from Auricularia auricula on blood lipid metabolism and lipoprotein lipase activity of ICR mice fed a cholesterol-enriched diet. Journal of Food Science, 73(6). https://doi.org/10.1111/j.1750-3841.2008.00821.x
68. Ye, T. mei, Qian, L. bo, Cui, J., Wang, H. ping, Ye, Z. guo, & Xia, Q. (2010). [Auricularia auricular polysaccharide protects myocardium against ischemia/reperfusion injury]. Zhongguo ying yong sheng li xue za zhi = Zhongguo yingyong shenglixue zazhi = Chinese journal of applied physiology, 26(2).
69. Xu, W., Shen, X., Yang, F., Han, Y., Li, R., Xue, D., & Jiang, C. (2012). Protective effect of polysaccharides isolated from tremella fuciformis against radiation-induced damage in mice. Journal of Radiation Research, 53(3). https://doi.org/10.1269/jrr.11073
70. Reshetnikov, S. V., Wasser, S. P., Duckman, I., & Tsukor, K. (2000). Medicinal Value of the Genus Tremella Pers. (Heterobasidiomycetes) (Review). International Journal of Medicinal Mushrooms, 2(3). https://doi.org/10.1615/intjmedmushr.v2.i3.10
71. Wang, Z. C., Yang, S., Li, L. X., Zhou, F. M., & Wang, R. D. (1983). Studies on the effects of Tremella fuciformis Berk preparation on immunity and blood formation in rhesus monkeys. Journal of traditional Chinese medicine = Chung i tsa chih ying wen pan / sponsored by All-China Association of Traditional Chinese Medicine, Academy of Traditional Chinese Medicine, 3(1).
72. Hsu, S. H., Chan, S. H., Weng, C. T., Yang, S. H., & Jiang, C. F. (2013). Long-term regeneration and functional recovery of a 15 mm critical nerve gap bridged by tremella fuciformis polysaccharide-immobilized polylactide conduits. Evidence-based Complementary and Alternative Medicine, 2013. https://doi.org/10.1155/2013/959261
73. Park, K. J., Lee, S.-Y., Kim, H.-S., Yamazaki, M., Chiba, K., & Ha, H.-C. (2007). The Neuroprotective and Neurotrophic Effects of Tremella fuciformis in PC12h Cells . Mycobiology, 35(1). https://doi.org/10.4489/myco.2007.35.1.011
74. Powell, Martin. (2014). Medicinal Mushrooms: A Clinical Guide (2nd ed.). Mycology Press.
Cogumelos medicinais