Ciclo menstrual na Medicina Chinesa

Conheça a perspetiva da Medicina Chinesa nas diferentes fases do seu ciclo
31 de março de 2023 por
Ciclo menstrual na Medicina Chinesa
Maria Bentes
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O ciclo menstrual normal dura habitualmente entre 25 a 35 dias. Porém, do ponto de vista da Medicina Chinesa, quanto mais próximo o ciclo estiver de 28 ou 29 dias, melhor.

O ciclo menstrual divide-se em 3 momentos: fase folicular, ovulação e fase lútea. 

Na fase folicular há um aumento dos níveis de estrogénio (fase yin), enquanto na fase lútea há um aumento dos níveis de progesterona (fase yang).


Fase yin do ciclo

A fase folicular começa no primeiro dia da menstruação.

É chamada de fase folicular porque é nessa parte do ciclo que um ou mais folículos no ovário crescem o suficiente para que ocorra a ovulação.

Também é chamada de fase proliferativa porque o endométrio aumenta de espessura, de forma a estar pronto para receber um óvulo recém-fertilizado.

Do ponto de vista hormonal, é a parte do ciclo onde é produzido mais estrogénio do que progesterona.

 

Fase yang do ciclo

A fase lútea é compreendida entre a ovulação e o início da menstruação.

É nessa fase que a progesterona é produzida pelo corpo lúteo e os nutrientes são secretados pelo revestimento uterino.

 

Quatros fases do ciclo menstrual - Medicina Chinesa

Na Medicina Chinesa consideram-se 4 fases: menstrual, pós-menstrual, ovulatória e pós-ovulatória.

O tratamento de Medicina Chinesa pode variar consoante a fase em que a paciente se encontra.


Fase menstrual

Os níveis das principais hormonas femininas, estrogénio e progesterona, são muito baixos no início do ciclo. O que faz com que:

  • O fluxo menstrual comece (descamação do endométrio)
  • A hipófise comece a produzir hormonas (FSH e LH) para estimular o crescimento de novos folículos no ovário

O primeiro dia do ciclo é geralmente definido como o primeiro dia em que há sangramento menstrual.

Na perspetiva da Medicina Chinesa, no primeiro dia do ciclo, o canal chong mai começa a esvaziar. O qi do canal ren mai dirige o fluxo de sangue para baixo através do colo do útero. Do ponto de vista do ciclo yin e yang, é nesse momento que o ciclo anterior termina, pois o yang atinge o seu limite e o yin nasce.

O grau de descamação do endométrio varia de mulher para mulher. As características do fluxo menstrual e sintomas acompanhantes, que a mulher apresenta são alvo de interpretação na Medicina Chinesa e indicam como está a ocorrer o movimento de qi e sangue.

O tratamento aplicado nessa fase deve promover o movimento e o livre fluir de qi e sangue para encorajar a saída do fluxo menstrual, eliminar calor e prevenir a estase de sangue.

A remodelação tecidual que ocorre durante a menstruação é crucial para proporcionar o ambiente adequado para a implantação do embrião.

 

Fase pós-menstrual

Um dos folículos supera os outros em crescimento e começa a produzir estrogénio abundantemente.

Os altos níveis de estrogénio estimulam:

  • Proliferação do revestimento uterino
  • As glândulas do colo do útero para produzir muco fértil

Os altos níveis contínuos de estrogénio atuam na hipófise, induzindo-a a produzir LH. A onda de LH estimula a produção de enzimas líticas e prostaglandinas no folículo dominante.

Nesta fase, o sangue e o yin crescem, o que se pode traduzir na proliferação do revestimento uterino e crescimento e maturação dos folículos.

 

Fase ovulatória

O oócito é libertado quando as enzimas criam uma rutura na parede do folículo e as prostaglandinas estimulam a sua expulsão.

Nessa fase, o yin está no auge de seu ciclo, o canal chong mai está cheio de sangue e o yang começa a exercer a sua influência.

Na Medicina Chinesa, diz-se que a libertação do óvulo e a sua passagem pela trompa de Falópio requer o livre fluir do qi.

Assim sendo, na fase ovulatória podem ser usadas plantas reguladoras do qi, bem como pontos de acupuntura que promovem a circulação de qi no abdómen inferior.

Para além disso, plantas medicinais prescritas nessa fase podem ajudar as secreções mucosas espessas, que foram acumuladas na fase folicular e que precisam de ser dispersadas, para desimpedir a passagem, do istmo da trompa até ao útero. Caso existam cicatrizes, torções, ou aderências dentro ou em redor das trompas que impedem o seu movimento ou obstruem a sua passagem, podem ser adicionadas plantas reguladoras de sangue.

Os tónicos de yang prescritos, a partir do momento em que o LH começa a ser libertado, também ajudam na flexibilidade da trompa e no movimento do óvulo, podendo ajudar os músculos do istmo a relaxar e as suas secreções a serem eliminadas.

 

Fase pós-ovulatória

O corpo lúteo forma-se a partir do folículo vazio e produz progesterona (e estrogénio) para:

  • Estimular o endométrio a secretar nutrientes
  • Inibir a hipófise de produzir mais hormonas (FSH, LH) que amadurecem mais folículos.

Após a ovulação, a temperatura do corpo aumenta ligeiramente, devido à ação da progesterona. Na Medicina Chinesa considera-se que o útero deve estar quente, uma vez que o padrão de frio no útero pode ser uma causa de infertilidade. O calor do útero refere-se à atividade metabólica, bem como à secreção de nutrientes por parte do útero.

No fim da fase lútea, o corpo lúteo degenera e os níveis de progesterona e estrogénio caem, promovendo:

  • O início do fluxo menstrual conforme o endométrio se desintegra
  • A hipófise para iniciar novamente a produção de FSH e LH para amadurecer o próximo conjunto de folículos

O defeito da fase lútea refere-se a uma fase lútea curta pois o corpo lúteo degenera antecipadamente. Isso significa que pode não haver tempo suficiente para o embrião se implantar com sucesso, algo que ocorre 8 a 10 dias após a ovulação. Esse defeito pode estar relacionado com uma debilidade do yang do rim.

Se ocorrer uma conceção e a implantação do embrião for bem-sucedida, este irá produzir hCG (hormona gonadotrofina coriónica humana), o que estimula o corpo lúteo a permanecer ativo, até que a placenta esteja pronta para assumir a sua função.

Na Medicina Chinesa, durante a fase lútea, dá-se prioridade a tónicos de yang, de forma a auxiliar a manutenção dos níveis de progesterona em níveis satisfatórios, com o intuito de manter o endométrio espesso, esponjoso e recetivo, pronto para a possível chegada do embrião.

Se não ocorrer a conceção, inicia-se um novo ciclo menstrual.


Referências bibliográficas

Lyttleton, J. (2013). The treatment of infertility with Chinese medicine. Churchill Livingstone/Elsevier.

Ciclo menstrual na Medicina Chinesa
Maria Bentes 31 de março de 2023
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